quinta-feira, 27 de agosto de 2009

Missões – Sempre uma obra de amor e sacrifício

                Quando viajamos pela aqui pela Letônia, podemos ver, mesmo nas mais isoladas e desabitadas vilas, enormes templos cristãos. No caso aqui da Letônia, a maioria destes templos são da Igreja Luterana. Existem também alguns da Igreja Ortodoxa Russa, sempre muito suntuosos. Na região de Latgale, que fica no lado oriental, parte que faz divisa com a Rússia e Bielorussia também aparecem alguns templos da Igreja Católica Romana. O que isso tem a ver com missões?
                A questão é a seguinte. A Letônia e os países ao Norte e ao Sul, Estônia e Lituânia, foram os últimos povos a serem cristianizados na Europa. Em tempos remotos os povos que aqui viviam eram adoradores da natureza e valentes enfretavam a “fúria cristã”; de um lado a forte Igreja Ortodoxa Russa e do outro a força da Igreja de Roma. Resistiram valentes às duas forças “cristãs”, mas no Século XII cederam. Aqueles povos simples, que adoravam a criação e cantavam a ela, passaram a ser cristãos. Mais tarde, já depois da Reforma Protestante, a Alemanha e Suécia também dominaram a região e impuseram o Luteranismo como religião oficial. Neste tempo muitos templos foram construídos e alteres pagãos destruídos. Qualquer cidadezinha na Letônia ou Estônia tem um bonito e grande templo luterano.
Interessante é saber que a palavra “Batismo” na língua leta não é uma transliteração da palavra grega “βαπτισμω” (Baptismo), ou mesmo do Latim “Baptismus”, que significa imersão. Aqui batismo é “Kristība” e batizar é ”Kristīt”. Se traduzirmos estas palavras bem literalmente o significado será algo como “cristianizar”. Assim quando o cidadão recebia a água na cabeça tornava-se cristão, com todos os direitos e deveres.
                Este foi o tipo de missão por imposição, não por amor. Muitos iam se convertendo por necessidade. Foram sendo cristianizados. Um fato interessante é que até 300 anos atrás as pessoas não tinham sobrenome na Letônia. Então por força da igreja Luterana todos tiveram que escolher sobrenomes. Então o chefe da família ia à igreja e lá escolhia um sobrenome. Por exemplo, o meu sobrenome é “Bērziņš”, que é o nome de uma árvore aqui na Letônia (em Português Bétula). Assim “bērzs” é uma bétula e “Bērziņš” uma bétulazinha, ou seja o diminutivo. A maioria dos sobrenomes eram escolhidos em homenagem à natureza, dando nome de animais, plantas, árvores, etc. Alguns, querendo parecer mais importantes escolhiam sobrenomes de origem alemã ou sueca então surgindo sobrenomes como sufixos “bergs” ou “sons”, exemplos deles são: Lambergs, Jakobsons, Jansons, etc. Por falar em “Bērziņš”, este é o mais popular sobrenome da Letônia. É como o “Silva” no Brasil. Se no Brasil todos acham estranho meu nome e sobrenome, aqui não tenho nenhum problema com isso, sou uma espécie de “João da Silva”.
                Como resultado desde tipo de ação missionária surgiu uma igreja não conquistada por “missões de amor”, mas sim “missões por ocupação política”. O fruto de “missões por ocupação” quase sempre é uma igreja passiva, muito litúrgica, focada no clero e não no laico. O sacerdote sempre está vestido com roupas estranhas, o púlpito está  bem no alto, ao lado, sem a mínima chance de acesso pelo povo que ouve calado as “verdades” vindas de Deus. Existe também o altar e, claro que entre ele o povo, está fincada uma cerca de madeira para evitar o acesso do desentendido, do impuro, do leigo até a “presença de Deus”. “Isso poderia exterminar o pecador” ou “isso seria um ato de irreverência diante de Deus”, advertem os clérigos.
                Infelizmente, no contexto europeu e mesmo Latino Americano, aconteceram muitas “missões por ocupação”. Assim as igrejas que surgiram destes movimentos de ocupação não tiveram o DNA do amor, de missões, de evangelismo. Essa é uma das razões pela qual a igreja cristã está em declínio na Europa. Existem entretanto exceções. Grupos, como os Morávios dentre outros, se sacrificaram em anunciar o evangelho de Cristo. Até mesmo os letos, por acreditarem estar sendo obedientes ao Senhor saíram em direção ao Brasil num tempo em que tudo parecia estar ficando bem na Letônia (anos 1920), após a Primeira Grande Guerra Mundial e a proclamação da república leta, em agosto de 1918. No Brasil os cerca de 2.000 letos, a maioria batistas, realizaram um grande trabalho de evangelização, plantação de igrejas e formação de liderança. Até hoje podemos ver reflexos daquele movimento. Nomes bem conhecidos na liderança evangélica atual são de descendentes de letos. Pastores Osvaldo Ronis; Ed René Kivitz (Igreja Batista da Água Branca), João Reinaldo Purin e João Reinaldo Purin Jr. (IB do Méier), Reginaldo Kruklis (Ex presidente da Haggai Institute e Crown Ministries). Missionários como Ronald Rutter (também professor); Juca Cerpe (ministério Oanse); Tabita Kraul Miranda Pinto, Professora e Diretora do Seminário Betel no Rio de Janeiro. Poderíamos citar muitos outros, encher algumas páginas.
                Não existe missões sem sacrifício, sem sangue, sem batalha, sem amor. É como  uma guerra, às vezes somos abatidos, dados como vencidos, queremos nos recolher e desistir. Mas quando levamos a Palavra com amor ela vai sempre produzir frutos. Os frutos de missões não são majestosos templos e sacerdotes com roupas de linho fino, mas pessoas tranformadas e que transformam a sociedade ao seu redor. Pessoas dispostas a morrer por serem portadores da Palavra do evangelho. Invista sua vida no que realmente é importante. Viva o evangelho, viva Cristo rescurreto em seu coração!

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